quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Retorno do Velho

Um velho sentado no banco é só um velho sentado no banco, estava triste com seus cabelos brancos bagunçados com o vento doce da primavera, eu por um momento sabia quem era aquele velho, somente por um momento eu tive certeza de quem era aquele velho e ele num gesto gentil sorriu para mim. Eu estive com tanta saudade dele, sempre fora um companheiro sábio, mas agora ele estava ali naquele banco e nem é mais aquele que eu conheci um dia e eu senti vontade de chorar e então ele me disse “Não, você não tem que chorar, você tem que sorrir”. E surpresa, eu não soube o que fazer, talvez eu chorei e sorri ao mesmo tempo.

Então, eu me desliguei daquela realidade enfadonha e tão cheia de suas certezas incertas, joguei a mochila no chão e sentei ao lado dele. Ele nem me olhou direito, ligeiramente desapegado, somente acenou com a cabeça um ponto dentro da paisagem da cidade e eu vi uma arvore e um pássaro cantando pousado em sua copa e qualquer coisa como insanidade passando nos olhos daqueles que nos olhavam sem entender o que fazíamos ali numa manhã tão linda de primavera. E eu e o velho sorrimos, porque loucos eram eles que ainda não se demitiram da realidade.

Eu disse que gostava muito de ouvir musica clássica quando o sol estava nascendo e que sentia que naquele dia o sol não estava simplesmente nascendo, ele estava dando um espetáculo e talvez eu fizesse parte apenas de uma pequena platéia, mas não poderia negar o quanto foi adorável para mim e para o sol nos apresentarmos numa manhã quentinha ao som de musica clássica e o sol também sorriu para mim, eu sabia que todo o leste estava feliz e que todas as flores logo estariam também. E o velho balançou a cabeça em concordância e ficamos em silêncio por mais algum momento atemporal.

Quando você começa a questionar a realidade de seus próprios sonhos, então algo realmente sublime acontece, algo como lucidez se espalha pelos cantos que não são cantos e um pouco do inconcebível torna-se completamente possível. E eu questionei se eu tinha medo da sabedoria e o velho simplesmente me disse que sou uma criança ainda e que crianças sempre gostam de perguntar os porquês das coisas, mas quando eu estiver madura o suficiente eu não vou mais me preocupar tanto com os porquês e dançar musica clássica com o sol será apenas uma nova forma de se dar bom dia.

E então eu disse a ele que eu estava feliz, mas que também estava triste, que coisas entristecedoras aconteciam pelos cantos e que em momentos de profunda entrega as coisas da mente, às vezes cobria a cabeça com um saco de pão e às vezes eu gritava enlouquecida e que havia momentos em que eu chorava também. Então, ele simplesmente sorriu e disse que chorar ajudava a limpar os olhos. E que minhas loucuras serviam para alguma coisa, disse que a dor servia para nos mostrar de que estamos vivos e que a tristeza é uma senhora velha e de olhos profundos e que se por um momento eu pudesse olhar para ela, se eu pudesse realmente olhá-la nos olhos e dissesse “oi, eu sou a Baby”, ela certamente sorriria para mim.

Ele apontou a arvore novamente e foi me dizendo que ela não estava chateada porque o vento balança sua copa e que ela não está chorando porque o vento não pára de balançar a sua copa, ele disse que ela simplesmente dá um “olá” para o vento e o vento a sopra em retribuição. Disse que agora a tristeza é como o vento e ela está soprando a minha copa e que eu estou chorando por isso, quando eu deveria simplesmente dizer “olá” para ela e ela me retribuiria gentilmente.

Eu fiquei pensativa por um tempo, eu realmente estava querendo mudar tudo, eu realmente estava querendo transformar a coisa toda num bolo de chocolate e o velho cortando meu pensamento disse “você já fez isso antes, você já deu um olá para ela antes e ela não te matou por isso. O que há de novo?” Eu concordei. Afinal ela gosta de passear mesmo pelos meus jardins e plantar algumas flores. E então o sol tocou a minha pele, o vento girando e correndo cantou feliz que era primavera e me lembrei de que navios sempre atracam no porto me trazendo um presente. E o velho já não estava mais ali.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dagaz

Salve, Dia! Salve os filhos do dia! Salve Noite e suas filhas! Salve deuses e deusas! Salve!

Caminhando nos salões da aurora, mas que saudade que me bateu agora, do momento em que eu podia voar sobre a cidade dourada e chorar como a mais amada. Assim na doce brisa, no sol do nascer do dia, eu busquei o que era novo, eu busquei a profundidade em mim. Não queria que meus pensamentos voltassem para aquilo que me causa dor, não, eu me cansei de horror ou das noites malditas! Então agora eu vivo o dia, como uma donzela que desperta com o beijo, o beijo do sol caloroso!

Não tenho mais ouvido o vento, nem observado o vôo dos pássaros, caminho pelas ruas perdida em pensamentos e sei que tenho perdido algo que é muito importante para mim. Não tenho observado como a neblina cobre a noite como um manto e nem como as estrelas às vezes se esforçam para vencer as nuvens. Não tenho buscado um sorriso no choro ou a beleza dos corredores escuros de mim mesma. Tenho só feito evocar a tua imagem em minha mente e buscado resolver as equações malditas que me tiram o sono.

Numa prece silenciosa que se perde em algum canto do universo, eu deito algo como amor sobre você e algo muito triste é evocado dentro desse amontoado de palavras, talvez eu esteja mesmo morta, talvez não há nada de novo para ser revelado, talvez eu esteja mesmo certa e o tempo é findado, talvez nada como calor, fogo e alegria seja evocado dentro da noite fria que se instalou em nós. Será que ainda podemos curar um ao outro?

Bobagens de uma manhã abençoada pela a esperança de Dagaz! Bobeira de uma manhã com as bênçãos de Sigrfrida! Bobeiras de uma mente insana que procura se expressar desesperadamente. Não o que se “mente”, mas o que se sente! E isso me faz deitar sobre uma vala! Morta, desvirtuada e certamente, despedaçada. Aos pedaços recebendo a luz divina! O que há de restar em mim? O que há de restar no mundo?

No canto aquela que chora a dor daquilo que se foi! No canto aquela que implora para que tudo se resolva da melhor forma! E eu apenas aquela morta que se cala, sem frio, sem calor, sem nada, somente a observar a areia na ampulheta e tentar desvendar o que se fazer daqui pra frente. Choramingar o amor ausente? Não, prefiro me manter dormente, negando a comédia, sorrindo com o trágico. Opa, e lá vem o carro. E nós nos jogamos adiante!

Insano? O que haveria de mais insano que estar vivendo aqui? O que haveria de mais insano do que acreditar nessas mentiras que contamos para nós mesmos o tempo todo? Que eu seja como Frigga e passe minha eternidade tecendo em meu divino fuso!

Ah amigo, bom trazer de volta aquilo que sempre esteve comigo, um eu que é sempre vivo e que pode perscrutar todas as entranhas de minha própria mente dormente. Um Hail para o Dia! Um Hail para Noite! E um Hail para AS!


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