quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Lucidez



Ontem eu fui para cama com a minha mala cheia de liberdades mal resolvidas, então eu a olhei e a lancei para o universo, dizendo: “Pegue para você, eu não quero ficar com isso”. E então me lembraram de que o caos é perfeita ordem. Meu sonho dessa noite me apresenta um mestre me falando sobre Zen. Talvez eu tivesse recebido algum koan, infelizmente não pude me lembrar e era importante, porque de certo modo eu incubei o sonho. Mas então eu despertei para viver o dia e por algum motivo tudo o que não tinha sentido, continuou sem fazer qualquer sentido.

“Mestre Tokuan (cujo nome significa “pepino”) estava morrendo; um discípulo aproximou-se dele e lhe perguntou qual era o seu testamento. Tokuan respondeu que não tinha testamento, mas o discípulo insistiu:
- Não tendes nada... Nada para dizer?
- A vida não passa de um sonho.
E expirou.” – Koan Zen.

Uma das práticas mais importantes para se obter lucidez no sonhar, consiste em observar que nossa realidade, tal como nós a concebemos, é um sonho. Tenho feito essa meditação de tempos em tempos para ver se consigo obter lucidez no sonhar, ela consiste em observar tudo o que tem ao seu redor, como se estivesse dentro de um sonho; e eu pude perceber que quando realmente focamos nossa atenção no momento presente, no ambiente em que estamos, a sensação é muito parecida de quando estamos sonhando. Percebo que existe uma semelhança grande dessa curiosidade dentro dos meus sonhos, quando eu estou sonhando, na maioria dos meus sonhos eu estou observando tudo atentamente e raramente estou pensando.

E eu pergunto: estamos curiosos mesmo a respeito do universo?

Quando eu estou acordada, normalmente minha cabeça está cheia de pensamentos, estou preocupada com a conta para pagar, o emprego para conquistar, sobre como melhorar os relacionamentos no dia-a-dia, sobre como melhorar minhas práticas, sobre como melhorar a vida como um todo. A mente tem uma incrível capacidade de estar sempre buscando alguma coisa. Mas, então quando eu mergulho no momento presente e observo o ambiente ao redor, pensando algo como: “estou andando na rua dos sonhos” – enquanto eu estou fazendo caminhada, por exemplo. Vejo claramente que meu comportamento curioso e observador é o mesmo comportamento que eu tenho em meus sonhos. No thoughts! No mind!

Quando eu estou sonhando, não tenho a mente cheia de pensamentos como preocupar-se com a minha preguiça de ir à aula de espanhol, ou se o cara que eu gosto vai realmente gostar de mim também, ou se vou encontrar um emprego melhor ou se vou ter dinheiro suficiente para fazer tudo o que eu quero fazer. Quando eu estou sonhando normalmente eu estou vivendo aquela situação do sonhar intensamente. Quando eu me entrego e fico apenas no momento presente o tempo todo, realmente observando tudo ao redor e não totalmente enredada em meus pensamentos, percebo que a realidade é tal qual como no sonho. Aquela mulher desconhecida que passa por mim na rua, também pode passar por mim na rua dos meus sonhos. Não há nada de diferente entre sonhar e viver. Ambas as coisas são a mesma coisa.

“Eu estou sonhando quando estou acordado e vivendo enquanto estou dormindo”.

Então, na realidade (engraçada essa expressão!), para você obter lucidez enquanto sonha, é necessário que você passe a aprender ficar lúcido no seu dia-a-dia. E estar lúcido consiste em tornar-se consciente de que você não é seus pensamentos, você não é seu corpo, você não é o ambiente, você é, seja lá o que isso possa ser, apenas o observador. E desapegarmos dessas coisas todas as quais estamos habituados a fazer e tornar-se lúcido no nosso dia-a-dia é a parte mais difícil. Porém, a questão é simples, quanto mais lúcido agora, mais lúcido quando estiver sonhando.

Um comentário:

  1. Takuan e os seus conselhos... Perfeito. Muito legal as idéias e é justamente isso, para se ter lucidez lá é necessário primeira ter lucidez aqui.

    Clap Clap Clap, Baby.

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