sábado, 20 de novembro de 2010

Aprendendo a Profetizar com Robert

“Não importa para onde você vai e muito menos de onde veio, mas seja lá para onde você está caminhando, lembre-se de ir pelos caminhos non-senses da vida. É assim que as coisas funcionam, ou não, mas ao menos você vai ter milhares de histórias bizarras para contar”.  – Dalai Baby.

Ganhei o Robert tem alguns dias, acho que uns dois dias, foi uma vingança do Vortek por causa de um anão de jardim maluco que eu dei para ele, claro que eu tinha as melhores intenções, mas como vovó já dizia “de boas intenções o inferno está cheio”. Então, o maldito me deu um Gremlin de presente, tem que ver, é a coisa mais fofa do mundo e logo que eu o recebi eu vi que aquela carinha linda só devia ter um nome, e seu nome é Robert.


Quis ensiná-lo boas maneiras, logo que eu recebi o presente já fui informada que o bicho era mais atentado do que as Torres Gêmeas, mas era tão fofo que eu simplesmente não podia me desfazer do bicho. Procurei ensiná-lo a ter bom senso, bons modos, bom qualquer coisa e até que o bichinho aprendeu rapidinho. Implorei aos céus, Buda, Padim Cícero, Joana D’Arc, Cristovão Colombo e Lula, para que o bicho não se multiplicasse como me disseram que aconteceria e acho que esse povo todo ouviu minha prece. Pelo menos até o santo momento o bicho está do mesmo jeito.
Foi então que eu tive a grande surpresa de todos os tempos, Robert diz que é a reencarnação do amparador Ramatís do Wagner Borges e me ensinou umas paradas doidas de raios que eu não entendi lhufas. Ensinou também que quando passasse um tornado por São Paulo era para eu me enterrar viva que nada me aconteceria, ensinou a plantar bananeira e mandar gente chata ir plantar coquinhos.
O bicho é tão evoluído que agora deu para andar com um tumbante na cabeça fazendo profecias, entre milhares de previsões ele preveu que Einsten está morto, que Beethoven era surdo, que Crowley foi muito bonitinho no Visão e a Voz, que Spare vai se reencarnar em 2023, que o Vortek vai tomar um porre de vinho, que o Ow vai virar astronauta e depois da sua próxima viagem pela galáxia ele vai encontrar uma máquina do tempo e que em 2012 o mundo acabará em coxinhas. Não bastasse todas essas profecias construtivas que mudará o rumo da nação e do mundo, Robert se dispôs a ensinar a arte de clarividência para qualquer maluco esquizofrênico a fim.

Uma técnica que ele me ensinou será passada para vocês.

Tornando-se Nostradamus

Primeiro encontre aquele brinquedo de criança com letras e números tipo esse aqui abaixo.




Em seguida vc pega uma bacia de plástico da cor que você quiser, se não tiver de plástico, pode ser de alumínio mesmo. Amarre uma faixa do rambo na cabeça, acenda uma vela de bolo de aniversário de número 23, pegue os numeros 2 e 3 do brinquedo e forme o 23 dentro da bacia com água.
Então, faça barulho batendo as palmas nas coxas, até as coxas ficarem vermelhas, cantando:

Eu vou ver o futuro
O futuro eu vou ver
23 é o meu numero
E eu vou ver pra crer.
Eu vou ver o futuro
O futuro eu vou ver
Depois que eu ver tudo
Eu vou te convencer

Fica olhando pra água até você ver alguma coisa além do número 23 que vai estar lá dentro, se se sentir inseguro você pode chamar pelo Robert, como um ser evoluído tipo Dom Genaro de Carlos Castañeda, ele pode estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo. Depois de fazer a sua previsão, mande fazer uma faixa e pendure em frente a sua casa com os seguintes dizeres: “Eu agradeço a Santo Expedito pela graça alcançada”.

Pronto, você já pode ser o Nostradamus dos tempos modernos.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Love



Ele não me disse absolutamente nada, sequer uma palavra...

Quando me coloquei numa posição de total desesperança,
Certa de que nada adiantaria...

Então, a sala encheu-se com o seu cheiro, o seu perfume...

Ele estava em todos os lugares, ele estava ao meu redor...

Ele estava em todos os lugares, estava acima e dentro de mim...

E nada no mundo poderia ser tão adorável...

Nada no mundo poderia ser tão confortante...

Nada no mundo se iguala ao meu amor...

Nada no mundo pode me amar tanto...

E eu senti tudo, ouvi tudo, soube de tudo

Ainda que ele não me dissesse nada.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Incompreendido



Ele sabia como só ele mesmo poderia saber, quando os sons deixam de ser naturais, quando as sombras simplesmente caiem pela janela. Ele acendeu um cigarro, deu mais um gole em seu vinho, perdeu-se numa rede de pensamentos que poderiam ter feito com que delicadamente saturasse qualquer tipo obsessivo de pensamento. Eu poderia vê-lo nesse ponto do mundo, poderia vê-lo dentro de sua bolha.

O dia estava terrivelmente cinza, havia uma porção de sanidade que o fazia rabiscar as paredes de seu quarto e talvez se ele soubesse o quanto eu gosto de vê-lo louco, se soubesse o quanto fica bonito em sua loucura, ele jamais tentaria ser são novamente. Um por um ele pintou os peixes de seu aquário, ele não conseguiu notar ainda que eles estivessem mortos. E é tão belo, tão belo em sua loucura.

Ele cobriu todos os móveis de sua casa com lençóis, ele acreditava que jamais voltaria para sua casa novamente, nunca pareceu se dar conta de que ele nunca saiu dela. Ele desenhou caminhos infindos com comprimidos, ele jogou uma rosa dentro do vaso sanitário, ele colocou seu cachorro numa gaiola e deixou um pássaro morto sobre seu computador. E é tão belo, tão belo em sua loucura.

Naquela tarde nós conversamos e ele me contou todos os mistérios do universo que ele sabia, sei que foi bastante complicado para ele entender que eu só era um personagem de sua cabeça, mas ele tocou o meu rosto e disse algumas palavras bonitas. Aquele foi o quadro mais belo que ele pintou em toda sua vida, anestesiado com o êxtase das estrelas. E encantada eu só poderia confirmar o quanto ele é lindo em sua loucura.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

How Soon Is Now?

Não que eu pudesse dizer tudo com precisão, mas sei o que me espera na próxima curva e eu não sei se estou sendo justa, mas eu preciso jogar com isso, não porque isso muda todas as coisas ou por algum motivo eu esteja sendo maldosa, eu também preciso disso como preciso de ar. Ele teria me dito que o espelho é um tipo de portal e muitas vezes não sei se reconheço aquele meu reflexo nele.

Matem o último homem restante dessa raça mutante, porque quando a musica simplesmente parar de tocar, alguém com um extremo bom gosto deitará uma lágrima, não porque isso faça qualquer sentido, mas os anjos às vezes não são tão generosos quanto queremos que sejam. E eu tenho deitado algum tipo de compreensão dentro disso, mas aquelas fotos, todas aquelas fotos, não me disseram qualquer outra coisa a não ser o quanto isso pode ser difícil para você e não que eu esteja sendo pessimista, mas isso é encantador.

Permita-me tomar um pouco de seu tempo, porque isso é tudo que você poderia estar disposto a me dar agora e quando o sol evita aparecer no horizonte, não que isso seja tão difícil, mas a vida deita um tipo de concordância dentro da alvorada da perdição. E eu queria estar muito errada quanto a isso tudo, mas nunca me senti assim tão certa, tão sensata e tão sóbria. Não dentro dessa intensidade.

Por que teve de escolher ser uma ponte quando poderia ser um porto? Por que decidiu pousar, passarinho? Mas, creio que não estou tão certa quando eu dou o meu tempo para falar sobre você. Você não está claro, não, você não está claro e penso se não foi você que decidiu sumir com o sol hoje. Eu estou rolando nessas escadas que me levam para dentro do que acho que é um oráculo. Como saber se estou certa? Diante de tamanha ambigüidade poderia haver algum tipo de certeza, se não fosse pela nossa capacidade de interpretar tudo errado.

Você ouviu isso? Podemos interpretar tudo errado e isso talvez nos dê uma chance (em um milhão?). São essas imagens que saltam sem parar e eu penso que sei, eu penso que sei, mas eu posso estar enganada. Deitou um tipo de solitude no amanhecer, um tipo de escolha sinistra diante de um olhar impreciso. Isso não quer dizer que não podemos estar certos. Não, isso pode significar que nós estamos certos.

Eu não quero parar de escrever, mas são tantas informações que tomam minha mente que não sinto ter qualquer controle sobre isso e é tão obscuro isso que eu vejo para você. Você está caminhando num dia cinza, num dia muito cinza e eu acho que já vi essa história antes, eu acho que eu já vivi essa história antes. Deveria ser verão, sim deveria. Mas é inverno e o inverno nem sempre é cuidadoso com nossos sentimentos.

E diga que o vento pode estar soprando e dizendo que eu estou louca. O vento poderia levar isso tudo embora? Não, creio que não, esse é o seu tempo, o seu tempo e isso pode ser algo que te traga algum tipo de divindade. E como está se sentindo agora? Eu realmente estou preocupada e eu realmente quero saber como está se sentindo, porque não sei como podemos ficar depois que o caos nos pinta ao seu gosto. E nenhum tipo de pensamento ou sentido me faz pensar que o que estamos fazendo é pura tortura, pura tortura.

Acho que em dias assim gosto de me ver caminhando pelas ruas, a sombrinha me dá um ar de inocência. Eu acendo um cigarro e sinto como se estivesse chapada, ainda que eu não tenha ingerido nada e essas imagens, essas imagens não querem deixar a minha mente, essas imagens querem me provar algo, querem me dizer algo e eu gostaria de dá-las todas para você e por mais que eu quisesse, eu não conseguiria ser tão clara... De qualquer modo, você me julgará louca e isso me faz encolher no canto do quarto, porque, querido, eu queria ser um quadro bonito para você.

Diga para parar! Diga para parar! E eu não consigo fazer outra coisa, eu me balanço na cadeira, eu quero dizer isso para todo mundo, eu quero dizer, mas ninguém me compreenderia ninguém me compreenderia. Resta-me deixar isso escrito em algum lugar para depois provar que eu sempre soube, eu sempre soube. E, querido, eu realmente me importo com você, embora adiante acreditará piamente que não. E eu não desejo que seja diferente e eu desejo que seja diferente. Talvez seja essa minha maldição, me responsabilizar por tudo o que estou fazendo para você.

Querido, me abrace e diga que eu estou louca.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Depressão - Nem perca seu tempo lendo...




Eu vou te contar uma história,
Uma história de como uma criança
Simplesmente amadureceu.
Eu vou te contar uma história
Uma história que eu tenho escondido
Porque não faz o menor sentido contá-la.
Mas, quando os brincos caem,
Quando o bebê morre,
Quando você se olha diante do espelho,
Você reconta todas as velhas histórias.
Então, me permita contar uma história
Uma história onde uma criança soube
Que o mundo era exatamente o que diziam.
Vou te contar uma história,
Uma história sobre como eu te estapeei a noite
E eu quis te afogar numa poça.
Vou te contar uma história,
Uma história que você pode não gostar,
Mas, quanto mais próximo estiver,
Eu vou procurar te matar...
Te matar.

E isso é tão abstrato.
É tão abstrato.


Eu não teria como dizer não.
Eu não poderia dizer não.
E isso é tão abstrato.


Eu não poderia dizer não.
Eu não teria como dizer não.
E isso é tão enlouquecedor.

Deixe-me contar uma história,
Uma história de todas as coisas que eu vi,
E que eu sempre soube.
Eu não menti, eu não menti, embora devesse.
Vou te contar uma história,
Uma história do quanto eu vou procurar te afastar,
Não porque você não pode estar,
Não porque eu não quero que fique.
Eu quero que fique, saiba eu quero que fique.
Eu não poderia te dizer não,
Mas, eu te mataria.
Te despedaçaria...
E choraria tua morte pelo resto dos meus dias.

domingo, 14 de novembro de 2010

Confusão

Alguém desmaiou na escada e foi o maior fuzuê. Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo, mas como todos os seres humanos comuns, todos procuraram por uma resposta rápida. Alguns corriam achando que era incêndio, outros diziam que alguém acabava de ser baleado, outros disseram que uma mulher havia dado a luz na saída de emergência, outros que era algum bêbado fora de si. Então, uma mulher suspirou dizendo “Que confusão!” e um velhinho sorriu para ela em resposta: “Confusão não, caos criativo”.

De algum lugar muito alto aquele maluco saiu do vórtice de energia e jogou milhares de sementes pelo mundo, depois saiu correndo pelado num grande centro gritando “liberdade”. Quem poderia entender o que estava acontecendo? Todos se apressaram para dar um sentido para o acontecido, não importava se era verdadeiro ou não, desde que tivesse um sentido, uma causa, uma razão de ser. Provavelmente algum militante maluco.

E aquela menina comendo salgadinho no banco da praça, enquanto olhava umas crianças se divertindo nos brinquedos, pensava que razão era a coisa mais louca que alguém poderia ter inventado. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser justificar a loucura como uma medida de dar um sentido as coisas. Explicar como? Para quem? E sobre o quê? Você tem certeza? Você tem mesmo certeza?

 E então houve a história daquele homem, que se perdeu na realidade, desde que começou a sonhar perdeu toda a noção de sonho e realidade, então começou a dizer que isso era sonho e aquilo era sonho e assim ele se tornou um grande sonhador, vivia sonhando... Sonhando aqui e sonhando lá. E alguém ainda disse que ele era parecido com Buda.

Ele era bem esquisito, vinha correndo pela rua em minha direção, pela feição parecia ser um louco qualquer que tinha acabado de sair do hospital. Ele segurou meus braços com força, sentia seus dedos cravados em minha carne. E ele começou a berrar: “Deseje para si as piores coisas do mundo, saboreie as piores coisas do mundo, experimente cada coisa horrenda que encontrar, aprenda a se desapegar de sua aversão, que é apego, e então isso te tornará tão forte, mas tão forte, que só poderá lidar com o mundo por meio do amor”. Soltou-me e continuou gritando: “Nenhum outro lhe dirá não, nenhum outro lhe dirá não”. Dei de ombros.

Três bruxas vivendo numa casa radioativa, elas eram reencarnação das Moiras. Isso mesmo, Cloto, Láquesis e Átropos e estavam perdidas por aqui. Por incrível que pareça elas adoravam comer patê de ração de cachorro com arroz, embora não soubessem o que era arroz. Apesar de toda essa confusão, elas são benéficas e entregam cachorro-quente para aqueles que elas convidam para a casa radioativa delas. Elas são mendigas, mas controlam o destino!

Confusão? Não, apenas caos criativo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Diário de Lucy

Quarta-feira, 11 de junho de 1986.


Alguém largou as meias no corredor do crepúsculo, estavam sujas e condiziam com um branco sujo como o branco daquelas paredes. No final do corredor eu poderia ver uma mulher vestida de branco, como uma enfermeira, os cabelos enrolados e bagunçados por debaixo da touca davam-lhe um aspecto de louca. Não fosse eu também louca, eu estaria com medo agora. E o psiquiatra me dissera que eu só estava alucinando.
Nove e vinte da manhã, as sombras projetam quadros estranhos na parede do quarto, eu me lembraria de Justin, não fosse a minha indisposição momentânea, nem todos os homens sábios que eu conheci teriam conceitos tão elevados e lúdicos como ele tem. Tão audacioso e preciso, tão sarcástico e alucinado, Justin seria o começo daquilo que os médicos hoje entendem de minha insanidade. Traumaticamente nós desenhamos quadros no inconsciente, que de semente virou todo um comportamento, Justin parece ter ficado petrificado ao ouvir o alarme soar. Dado ao nosso desentendimento conceitual, não fosse uma enorme necessidade de minha parte de descrever tudo como metáfora, talvez nós estivéssemos em algum canto místico do mundo.
Não sei dizer por onde aquele vagabundo tem se metido desde que me internaram nesse hospital, às vezes compartilho sonhos com ele e ele me diz que tudo está bem. O psiquiatra entende toda a minha realidade como esquizofrenia e eles tentam me forçar ingerir todos aqueles comprimidos em prol de que eu vegete. Às vezes quando absurdamente necessito dormir eu tomo um ou dois calmantes, mas em geral evito entorpecer minha mente com tais comprimidos, eles evitam que eu viaje por entre mundos e que explore todas as inimagináveis realidades disponíveis.
“Lucy, você está tão bonita” – dizia minha mãe na ultima visita, enquanto acariciava meu cabelo me olhando com pesar como se eu fosse uma retardada. Antes me importava com os pensamentos que os outros faziam ao meu respeito, porém hoje me sinto completamente confortável nesse hospício. Não que não deseje um dia sair daqui, mas realmente estava precisando tirar umas férias do mundo. Sofri por algum tempo vendo a sociedade insana julgando-se sã, engessados em conceitos pré-formados, sem sequer questionarem todo o sofrimento que vem se causando. Isso sim, me fez lembrar John e sua raiva constante.
Naquele dia seus olhos denunciaram o vulcão que estava entrando em erupção dentro dele, cego como a maioria é, ele projetou sua raiva em mim, acreditava-se certo e com razão em me odiar e querer me dar uma boa surra. Mantive-me dentro de meu próprio eixo, porque aconteça o que acontecer, nunca podemos nos identificar com a neurose do outro. John não pôde entender quando disse em alto e bom som, que na verdade ele pensava estar com raiva de mim, quando estava com raiva dos conceitos e crenças sobre si mesmo, que o prendiam não deixando expressar tudo o que sentia porque julgava torná-lo vulnerável. Se havia algo que John mais temia, certamente era parecer fraco ou sentimental. E ele não podia ver o quanto negar-se sentir e expressar isso o deixava cada vez mais vulnerável. Ele ainda teve mais força para berrar por horas. Mas, quando se deu conta de tudo o que fazia contra ele mesmo, era tarde demais e ele já tinha pulado da janela do oitavo andar.
Acho que me sinto saudosa hoje e não fosse pelo frio que faz lá fora, eu caminharia pelo jardim ouvindo Dóris, minha companheira de quarto, cantar. Às vezes penso se esse é o fim de todo artista, lembro-me que ficava preocupada em mexer tanto e implantar tantos sigilos e símbolos em meu inconsciente, fazia manobras estranhas e temia por erros irreparáveis. Mas, que fazia pequena Dóris além de cantar ópera? Não vejo qualquer diferença entre as palavras patologia e preconceito. Eles gritam em sua insanidade:
“Peguem os estranhos, os mais perigosos enfiem nos presídios espalhados pelo país e esses que confundem nossas mentes e se comportam de um jeito estranho trancafiem num “hospital” para que “curem” suas mentes e possam ser felizes (e padronizados) tendo uma vida normal (seja lá o que for isso) como a nossa. Pois nós estamos apavorados com a possibilidade de sermos um indivíduo e temos fobia à mudança. Eles são um perigo, pois podem abrir as nossas mentes para o cósmico. E enquanto isso rezaremos para que Deus nos perdoe de todos os nossos pecados. (Porque afinal nós só estamos com medo). Amém.”
Gostaria de continuar escrevendo no meu diário, mas estou realmente com muita vontade de tomar a minha sopa.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Como posso chamar isso?

Sons, cores, imagens, abstrato...

Procurando minha liberdade me sinto insana, há uma estranheza... São relacionamentos eternos, relacionamentos eternos...

Eles estão ali e existem e sempre existiram, mas você não se dava conta disso, como que se tais relacionamentos já estivessem acontecendo o tempo todo, até que o percebe e então, ele parece uma realidade para você, mas ele já era real antes mesmo de olhá-lo, ou tão irreal que depende da sua credibilidade consciente para existir.

Isso me faz lembrar o giro financeiro, ele existe ainda que eu o desconheça como eu existo ainda que ele me desconheça.

É tão estranho, tão estranho... E é tão normal quanto juntar um monte de letras para formar essa frase, tão atual como o jornal de hoje, tão devastador quanto à tempestade que desabava do lado de fora quando isso me tocou.

E sinceramente isso muitas vezes parece querer não fazer sentido. “Não espere uma resposta rápida” – ele me disse: “Eu só estou tentando dar um sentido intelectual para isso” – eu repliquei. E por algum motivo muito profundo, algum motivo realmente profundo, eu sinto que estou desabando, para dentro de mim mesma, para dentro do cosmo.

Ela se levantou tão bonita e tão feroz, ela se levantou e eu já sabia seu nome. Eu podia a sentir incomodada e eu queria que soubesse que eu tinha tanto medo dela, quanto ela pareceu sentir de mim, mas depois eu soube que só eu estava com medo... E eu a perdi por um só momento, eu a perdi e me vi furiosa.

B. não poderia fazer muito, eu bem sabia, nós podíamos jogar poker, mas talvez soasse estranho demais para duas pessoas tão diferentes. Eu acho que B. sabia disso, enquanto que eu ainda permanecia, para variar, como a confusa da história. E eu penso que preciso parar de ouvir para aprender ver. E eu penso que estou enlouquecendo quando a ouço gritar. E eu estou muito confusa e ela talvez se sinta incompreendida.

A musica é alienígena, mas terrivelmente hipnotizante, é tão profundamente relaxante, é como se estivesse ouvindo o som que criou o universo, parece tão profundo e ao mesmo tempo tão elevado, que quero me deixar ir. Uma coronhada na cabeça e a ordem: “Vamos, acorda!”.

Deixo mais um simples toque, eu me lembro do quadro bonito, que por raiva ou capricho, ou mesmo um cinismo auto-imposto e pouco percebido me fez jogar lençóis sobre ele, ignorando sua existência. Coisas tão difíceis de ouvir, coisas tão amáveis de ouvir. Coisas... E eu penso e no momento seguinte já estou confusa sobre o que estou fazendo...

E então o outro me mostra o quanto todos aqueles meus sonhos estavam certos, e sem que me perceba posso tocar o muro da sua insatisfação, eu posso tocar o muro da sua infelicidade. E sem que eu possa sentir de outro modo, dentro dessa limitação, não estou surpresa de que estava certa e não estou surpresa com o que está acontecendo, porque como nos relacionamentos, esses eventos já estavam acontecendo o tempo todo e ganhou nossa atenção, mas não sei dizer como, eu já os tinha percebido antes, quando as aranhas dançavam em meus sonhos. E eu lamento por não ser tão benigna, mas sinto prazer nisso.

Deliberadamente confuso, deliberadamente verdadeiro, deliberadamente estranho. Quatro histórias, enquanto delírio olha os morangos podres jogados na rua. Quatro seres, embora não sei dizer se isso faz qualquer diferença. Quatro episódios, embora eu não esteja ainda falando da tempestade. Porque é assim que tem de ser.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

You are learning

Um vôo para longe, mas não é sabido quanto longe isso pode ser. E eu a vigio enquanto se contorce dentro de uma gaiola gigante, como um pássaro preso, sangrando pela falta da sua liberdade. Ela chora, enquanto eu não posso fazer nada por ela ou não sei o que eu poderia fazer.
Seus gritos ecoam dentro da escuridão, seus carrascos andam ao redor, podemos ouvir seus passos. Ela está nua, talvez seu corpo seja tudo o que tenha e ela grita, e eu não posso fazer nada. Ela se contorce feito uma serpente, suja, todos aqueles lixos ao redor dela fazem nos lembrar do quanto somos animais, e eu não posso fazer nada. Eu quero ajudá-la! E eu não posso fazer nada. Estou perplexa, por um momento, um momento, eu penso que sou ela...

Deixe o passado! Deixe o passado!

Tudo está muito confuso, tudo está muito confuso. Um sigilo brilha numa parede branca, muitos ocultistas riem ao mesmo tempo, eles vestem negro, o capuz de seus mantos cobrem suas cabeças, vejo a estrela de oito pontas sobre eles, eu posso ver essa estrela e eles estão rindo, eles estão falando, eles estão cantando, eles estão agitados, eu não consigo entendê-los. Caos... Eu não sei onde eu estou, eu não estou entendendo e o sigilo ainda está brilhando naquela parede e todos os magos estão rindo e conversando.

A essência... Essência...

Ele me diz para onde eu tenho que ir. Ele me diz que estou aprendendo. Ele me diz que devo tentar, fazer e conseguir... Ele me diz... Estou tonta, estou surpresa, eu posso ouvi-lo. Aprofunde-se, mergulhe... Você deve ir até a essência das coisas se quiser transformá-las.
Um mergulho numa luz amarela...
Perco meus sentidos...
Estou sendo puxada, vejo adiante um altar... Eu conheço esse lugar é o meu quarto...
“Você tem de ir até a essência das coisas se quiser transformá-las”

Está tão luminoso! A chama, à vela, tontura... Estou voltando para o corpo...

E na caixa de pesquisa:

“You are learning”.


domingo, 7 de novembro de 2010

Que se dane

Quadro sinistro, adiante todo o espaço dentro de uma cápsula transparente, isso pode não ter nada a ver com o que se sente, mas é tudo o que se pode sentir.
O vento frio sopra de onde as curvas desintegram-se dentro de um mar de possibilidades, pedreiros erguem prédios achando que há neles algo de concreto, enquanto que ao olhá-los sinto que eles podem se transformar em qualquer outra coisa a qualquer momento.

Realidade plástica.

Os demônios gritam das profundezas do abismo que sou, eles gritam desejando fortemente destruição, não como uma ameaça, mas uma bomba atômica que explode dentro de mim tantas vezes que já perdi as contas.

Ele está morto!

Mas, isso me faz questionar por quanto tempo deverei velar o seu corpo. Carregando defunto por tanto tempo, já nem sei mais dizer se não sou eu que eu estou velando naquele caixão.

Deite-se por um momento e encontre boas cores para pintar a sua tela. Deite-se no seu quadro da aurora e se expresse, porque deus é só uma expressão. É uma incógnita, querido, uma incógnita!
Dançando dentro do tempo, tempo que é necessário, não porque isso tem de fazer qualquer sentido, mas as coisas às vezes precisam caminhar devagar. E a voz grita incessante: Você tem que estar preparado! Você tem que estar preparado! E cada linha dessa monotonia escreve toda uma história.

E eu me arrasto!

Porque é assim que as serpentes devem caminhar pela terra. Velha serpente que é vida e pela qual eu fui picada, vezes querendo estar em outro lugar, vezes querendo olhar para a morte. Mas, tudo o que eu consegui fazer a esse respeito foi comprar flores no cemitério. Bem, não que isso tenha um quê de repulsivo, mas a flor está enfeitando lindamente a minha janela.
E agora eu estou com raiva! Estou com muita raiva! Não das coisas que faço, mas das coisas que sinto fazer quando não deveria sentir. É um trocadilho. Num dia você está dançando e desfazendo toda a realidade, e no outro, você simplesmente se sente insatisfeito.

A pergunta é: O que é que é realmente necessário?

Insatisfação.

Não que seja incomum, mas é um inferno! Parece que caminhamos só procurando por um motivo pequeno para nos sentir insatisfeitos. E eu não estou nem um pouco preocupada em me regrar para evitar seu julgamento inevitável! Já disse que estou com raiva e tenho demônios dançando sobre a minha cama e qualquer coisa que você quiser pensar sobre isso é danação.

Então, que se dane!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Nada



Rabiscos...
Mas, talvez seja cinismo, raiva, sabotagem, distração...
Talvez seja carência, eloqüência, ausência, adaptação...
Talvez seja à sombra de um povo antigo ou de um comprimido...
Pode ser à noite, o frio, o vento e a chuva...
Pode ser o dia, a clareza, o calor, o sol ou cinza...
Neblina...
Talvez seja o vácuo quântico do meu ser em comum,
Com aquilo que não entendo, que emendo, o um...
Talvez seja algo que sinto, algo que minto, algo que finjo...
Mas, talvez pode ser algo que omito, que nego, que comprimo.
Pode ser só raiva, asco, grosseria e vaidade,
Ou dormência, tédio, opressão, quietude, maldade.
Pode ser nada...
Como só nada pode ser...
Pode ser nada...
Que me invadiu no amanhecer...

Bem...

Pode ser.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Coxinha



Essa história é baseada em fatos reais!

Um belo dia, dentro de sua dieta, porque ser gorda é coisa do capeta, ela decidiu não se permitir comer uma coxinha enquanto passava alegremente em frente à lanchonete. Porém, ela não sabia que o pior estava por vir depois daquela negação. Chegou em casa, fez o que tinha que fazer e foi dormir.
No outro dia nem mais se lembrava do incidente da coxinha, mas o pior começou a acontecer, ela começou a devorar todas as coisas que via em sua frente, comida, paçocas, panetones, sorvetes, bananas, mangas, balas, canivetes, cigarros... Tudo ela comia, estava terrivelmente possuída pelo que julgou ser uma fome perpétua, não passava trinta segundos após a sua última refeição e então era acometida por uma fome terrível e destruidora, saía caçando por todos os lugares tudo o que fosse comível, menos merda.
Os dias foram se passando, e a pobre não sabia mais o que fazer com aquilo. Sentou-se na escada e começou a fumar, pensando no que poderia ter causado o “start” de uma fome sem limites e fronteiras. Fumaça do cigarro entra, fumaça do cigarro sai e então, seu inconsciente fez surgir à imagem do momento da negação da coxinha.
“Não, não pode ser possível que uma simples negação de uma coxinha pode ter feito esse estrago todo”. – ela pensou enquanto achava que sua hipótese era absurda. Mas, aquilo não a abandonou, sua fome perpétua estava lá e a negação da coxinha também, só poderia estar ligado um evento no outro. Achou melhor conversar com seu amigo psicólogo, Tom Lourenço, para saber se aquilo era realmente possível:
- Tom, eu queria muito falar com você.
- Pode dizer, Sileide.
- Eu estou com um problema aí de fome perpétua e tudo começou desde que eu não me permiti comer uma coxinha por causa da dieta. Não sei se isso é possível, mas pensei que fosse meu inconsciente dizendo que eu devo comer uma coxinha.
- Soube de histórias terríveis de pacientes meus que negaram a Coxinha. Isso que você disse é muito possível, mas você sabe, sou meio místico e eu acho que seu problema tem uma causa espiritual.
- Não me diga que eu tenho que fazer a sessão do descarrego?
- Creio que sim. Mas, por favor, não vá a Universal, eu conheço um Xamã Católico Zen Xintoísta que poderá te ajudar com isso.
- Sério?
- Sim. Vamos, te levarei até ele. O tratamento pode ser assustador a princípio, mas acho que irá te ajudar.
- Oh, Tom, obrigada!
E lá se foram eles caminhando pelas estradas de todos os mundos. Sileide armava todo um esquema sobre um manifesto, uma marcha para pedir pela lei de proibir a venda e comercio livre de coxinhas e salientar que assim como o Sal, a Coxinha também deveria ser vendida pelo tráfico de drogas. Seu sofrimento era devastador, pensou em tantas pessoas que podiam estar sofrendo pelo mal Coxinhazheimer assim como ela, poderia abrir até mesmo um Coxinhas Anônimos. Pensou em dizer isso para o amigo, que era um revolucionário também, mas achou que era melhor guardar tudo aquilo para si.
Quando chegaram num barraco, “malacabado” e sujo, Sileide se deparou com o Xamã, era um tipo estranho, com a cara do Terence Mckenna, corpo de Tim Leary, olhos de John Lennon, ligeiramente aparentado com Dom Juan, óculos escuros tipo Matrix e vestido como os mulçumanos. Fumava um cachimbo em forma de língua de sogra e comia paçoca com cobertura de chocolate da Hershey’s (eu não estou ganhando pelo comercial). Tom tratou logo de dizer o seu problema para o amigo Xamã, falava tão baixo que Sileide não conseguia nem ouvir. O Xamã se aproximou da menina e perguntou:
- Como está se sentindo?
- Depois da coxinha virei devoradora de todas as coisas e sinto uma fome perpétua.
- Sim. Você está possuída!
Sileide arregalou os olhos: - Estou possuída pelo demônio da Coxinha?
- Não, o demônio é só um acessório, você está possuída pela Coxinha.
- Por Ganesh! Então, é por isso? Eu era uma boa menina, era uma menina normal, bacana, eu tinha amigos, uma boa auto-imagem, dinheiro no bolso, namorado, emprego e tudo o mais. Depois da Coxinha eu me perdi. Não consigo mais me relacionar e nunca mais fui à mesma. Muitas vezes eu sentia que não era eu quem falava, mas a Coxinha que falava em mim. Eu tenho vergonha de dizer isso, mas eu roubei para comprar Coxinha, eu me prostituí em troca de Coxinhas, eu destruí toda a minha vida pela Coxinha. Sei que não vai acreditar, mas eu vendi Crack para viciados pra sustentar meu vício em Coxinha.
A câmera foca no rosto do perplexo amigo Tom. :-O
- Sim. São bem esses os sintomas mesmo. – disse o Xamã.
- E o que temos que fazer?
- Vou usar uma técnica que não é muito agradável, mas tenho certeza de que isso e somente isso ajudará você. Deite-se naquela cama. – disse ele apontando uma cama de solteiro dentro de um quarto com as paredes sem reboco.
- O senhor não vai me estuprar não, né?
- Claro que não.
Sileide deitou-se na cama e o Xamã a amarrou. Tom, assustado com aquilo e triste por ver a amiga presa a cama por cordas grossas e fortes, chamou o Xamã de lado e perguntou:
- Isso é necessário mesmo?
- Sim. O tratamento envolve muitas coisas, entre elas amarras, contensão, outra droga substituta. Reza, muito Pai Nosso, muito Pai Nosso mesmo. E sessão de exorcismo.
- Ela está possuída pelo demônio da Coxinha?
- Não, como eu já disse, ela está possuída pela Coxinha, o demônio é só um acessório. Tipo, a Coxinha abre as portas para a entrada de espíritos ruins. É uma coisa muito severa isso, uma coisa muito feia.
O Xamã pegou toda a sua parafernália mágica, incensos, jurema, crucifixos, santos de todas as religiões, um gato preto, uma galinha, cinco pombos e uma baiana de dentro de seu armário e começou a sessão. Sileide começou a rir sem parar e gritar, chorava, ria, se contorcia. Tom estava mesmo muito nervoso, suando frio, enquanto o Xamã gritava:
- Ai de dum do iê! Bum bum bum... Xuasca li li li...
Sileide ria enlouquecidamente, Tom aproximou-se do Xamã e perguntou:
- Ela está rindo muito. Isso é normal?
- Não é ela quem ri, é a Coxinha quem está rindo, como nos filmes de exorcismos. – O Xamã virou pra menina jogando farinha e gritando: Saí, Coxinha! Saía desse corpo que não te pertence. Em nome de Donolito Jacuvé, pois este nome tem poder, eu ordeno que saía agora desse corpo!
Silêncio. Tom olhava para amiga que parecia morta quando pôde ver que uma Coxinha gigante se desprendeu de seu corpo, acendeu um cigarro e saiu caminhando pela porta da frente. Ele perguntou para o Xamã:
- Acabou o exorcismo?
- Não sei. Acho que ele está só começando.


Outros casos:

Salita França - Viciada em coxinhas desde 1994 - Ela está tão possuída pela Coxinha que está se metamorfoseando em Coxinha.

Laboratório Clandestino na Cracolândia onde se fabricam Coxinhas para o Tráfico.

Philip Dentorson - Assassino de aluguel para sustentar seu vício de Coxinha.

Flagrante do Datena - Duas Coxinhas se acasalando em plena lanchonete na Av: Paulista em São Paulo.


Steve Ratomorto - Um dos sintomas clássicos de viciados em Coxinha está em não conseguir manter o controle e a adoram a Coxinha com os olhos esbugalhados.

Trafico de Coxinha em plena luz do dia.

Assim que sua família soube de seu vício, Laurindo Mãosdetesoura, o Tesourinha, arranjou uma arma e ameaçava todas as pessoas que olhavam para a sua Coxinha. Seu vício desatou uma paranóia tão grande que achava que todos estavam conspirando para tomar-lhe suas Coxinhas.

Em São Paulo muitos centros de ajuda ao viciado estão atendendo, basta que você vá para o Posto de Saúde mais próximo e se informar.

Caso souber de pessoas que estão vendendo Coxinhas ligue para o Disque Denúncia.

Vamos lutar em prol de jovens saudáveis e longe do vício.

Procure o Coxinhas Anonimos mais próximo de você!

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