terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Materialize-se

Alguém chamou meu nome, eu sei lá quem era, pensei que fosse um deus. Eu tracei um velho sigilo no peito dele, o sangue às vezes tem uma coloração bonita. Veja, isso devia ser suave, mas a garoa rasgou a minha carne nessa manhã.E algo como um anjo cuspiu ao longe enquanto baforava a fumava do seu cachimbo.

Sabe, Miguel, às vezes quando eu sinto que o vento está soprando demais, eu fico assustada. Você esteve doente que eu sei, e eu estive louca nas ultimas horas, assim as Norns tecem...

Um sonho desceu rolando ladeira abaixo e as cortinas começam se abrir para o ultimo espetáculo. Não se irrite com estas coisas, Miguel, o universo quase nunca sabe o que está fazendo. Mas, às vezes eu gosto de pensar que posso saber e quando estou para alcançar a verdade, erguendo meus pés, eu escorrego e caio... E a verdade? Ela vira uma bolha de sabão que estoura no ar.

Meus deuses, eu não sei de coisa alguma e nessa febre louca que todos estão queimando, alguém dita as regras... E alguns anarquistas, meus amigos, sacodem a cabeça e gargalham as gargalhadas cintilantes dos deuses solares. E isso soa como ordem. Mas, nem é isso que nós queremos agora. Ou é?

Miguel, tropeçaram naquelas coisas velhas que nós escrevemos naquela vida passada, quando o mundo era apenas algo como o centro do universo e Deus açoitava seus infiéis em troca de um punhado de ouro. Todos aqueles hipócritas renasceram com nova carne e isso significa que o mundo continua perdido e o universo não tem nem idéia do que ele está fazendo.

Eu posso ouví-lo chorar, Miguel e eu queria poder te abraçar e jogar um pano quente em suas costas, enquanto você enfiaria seus pés dentro de uma bacia de água quente com sal. Mas, precisamos ter calma agora e precisar de calma é algo que me faz gritar. Não sei se dou risada ou se choro, mas não se assuste com essas verdades maltratadas, elas estão aborrecidas porque não é nada fácil ser verdadeiro. Sua barba está enorme, Miguel e o chá está esfriando e alguém como você não pode morrer em um chá gelado.

Cronos é um maldito que só faz contar os dias! E quando penso que estou para encontrar Afrodite eu tropeço e caío num buraco e tudo o que eu encontro é Perséfone com sua mania estranha de viver carregando aquela frutinha. Hades sorri. O que eu posso fazer? Queria poder cruzar todas essas realidades e dizer para você beber o chá o mais depressa possível, antes que escorregamos mais uma vez e sua janela começa a te mostrar algo como uma rua cinzenta cheia de gente feia.

Explica-me, Miguel, como pode isso? Por que eu tenho que sentir essa falta que eu sinto de você se nem sei em que universo você foi se meter em meus ultimos sonhos? O que as pessoas irão pensar de mim? Vão dizer que mesmo com toda essa idade eu ainda tenho uma mania infantil e louca de amigo imaginário. Quem vai acreditar em mim se eu disser que você é real, sem que você se materialize logo? Lamento te informar, mas a maioria já está questionando em qual hospício irão me internar. Então, prove logo, prove logo para todos eles que você existe, ou esquizofrênia será pouco para o meu diagnóstico.

 Plagiando o Vortek – Ao som de Persephone – Cocteau Twins

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