quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Dança

Dê-me mais um trago desse fumo apolíneo que abre as portas para aquilo que me creio absurdo, porque agora não importa mais, nada disso importa, exceto esse pulo que me eleva para além dessa mediocridade. Não, não creio em mim, mas eu sou tudo o que eu posso crer, então faço o que resta e creio. Ainda que podemos fazer tudo isso sem nada disso.

Agora é a hora do adeus, quando eu retiro todas essas roupas e mergulho na imensidão. Esqueçam-me, tenho dito! E tudo o que tenho feito não é mais do que um momento, um momento em que os deuses gritam suas verdades, porém, nada absoluto, como o canto daquele que canta porque decorou a letra.

Recheiam-me com suas mentiras e temam quando eu proclamar a ultima mentira universal, porque dentro do buraco negro eu encontro algo como eu e mim. Nada como nada pode ser. Não seja, apenas deleite-se no prazer dessa dispersão, porque agora não importa, nada disso importa, exceto aquele que você encontra debaixo de uma camada grossa de puro mistério. Não seja, não é!

Sandman não me sorriu e me senti infértil. Entretanto, odioso aquele sorriso mesquinho que recebi agora pouco, terrível aquele ar de superioridade medíocre de um hipócrita tão mais odioso quanto eu. Quer realmente saber? Eu me importo, como tenho me importado com todas as doenças de Gaia, mas se dissesse que estivesse morto, eu riria a deliciosa risada de Dionísio.

Pulando e dançando por toda Grécia!

Poseidon está coçando sua barba, mas isso não demonstra que nós estamos sóbrios de qualquer maneira, porque sinceramente é esse grau de importância que não me importa. Eu só quero ter um lugar para sorrir e cantar, quero só um canto no universo onde minhas loucuras possam ser sussurradas e alguém como Zé, sorria desesperadamente.

Estive triste, não nego. Estive louca e não nego. Eu estive usando máscaras assombrosas que denotavam a comédia e a tragédia e qualquer semelhança com deuses teatrais não é acaso. Abracei-me à noite, sacudi-me com a dança e agora não há mais quem me laça, porque para longe eu estou indo...

Dançando com Dionísio a terrível dança. Ainda sou aquela bacante que nos campos você conheceu, eu ainda sou aquela que se enoja, não porque há algo em você que me desagrade, só acho que muitos não combinam com o meu vinho. Ares apaixonadamente sorri e nessa brutalidade eu estou apenas cantando e dançando, porque deixei para atrás aquilo que me tornava pesada e cansativa. É a alternativa.

Que morram com suas verdades, mas que engasguem a cada  momento com suas mentiras, porque chegou o dia da luz do verão levar adiante o reinado dos deuses da lucidez, mas eles não estão entre vocês, só alguns poucos podem sentir a luz que emana da canção que outrora de antigos foi bem conhecida. Morra e não viva, porque isto é para poucos e você por mim está honrosamente amaldiçoado!

Então, que venham, que dancem comigo os lobos, os deuses e aqueles que são de mim, os que estão em mim e aqueles que ainda não são. Que dancem sob a chuva ou sob o luar, que se deliciem dentro da época do sul, onde o céu é divinamente azul e as estrelas podem contar-lhes sobre seus dias. Que dance o irmão dos meus sonhos. Que dance o olho de Sauron. Que dancem aqueles anos escuros que nós enfiamos na sepultura do escárnio, que dancem o mal e o solitário, porque é assim que tem de ser.

E eu danço a amável dança dionisíaca. Eu danço sob a luz púrpura de Eros. Oh, Eros que sempre me olha com teus olhos repletos de amor, a ti meu corpo de desejo, pelo modo como o concebo, deleito-me em teus olhos púrpuros e teu cabelo preto e suave como a noite! Ama-me, Eros! Ama-me, Eros! Tu, meu desejo eterno!  Eros a mim, a mim, Eros! Io, Io, Io!

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